O professor Jairo correu tentando se equilibrar para não cair. A câmera que protegia parecia ter mais importância que ele mesmo. Correu pelos corredores em direção à porta de saída, onde Sônia e Laura esperavam ansiosas. Quando elas viram o professor ficaram aliviadas. Jairo procurou pelas chaves, desesperado, em todos os bolsos.
-- Cadê as chaves?! -- Berrou Laura. O professor lembrou onde estava a chave.
-- Está com Alex.
-- Meu Deus! Como vamos sair daqui? -- Se desesperou Sônia.
O professor voltou sem dar nenhuma explicação, deixando às meninas sem saber o que fazer. Chegando ao laboratório viu Victor numa espécie de ritual sobre Bruno, que jazia no chão, desmaiado. Sem pensar duas vezes, correu e acertou com força a câmera na cabeça de Victor. Qualquer outro homem teria apagado com o golpe. Não o novo Victor. Ele simplesmente foi removido do corpo de Bruno e ao cair, se apoiou sobre seus braços. Tentou se erguer, mas recebeu outro golpe, e outro, e mais outro. Desta vez Victor caiu desfigurado. Jairo avançou sobre Alex, soltou a câmera e enfiou as mãos nos bolsos do jaleco. O objeto procurado estava no bolso esquerdo. Sem perceber o estado de Victor, avançou para a porta e correu em direção das meninas.
Mal conseguiu encaixar a chave na porta quando Jairo foi puxado fortemente, como se fosse um simples boneco. A ação surpreendeu Laura e Sônia deixando-as sem reação, limitando-se apenas a assistir atônitas o ataque de Victor. Laura voltou à realidade quando Sônia começou a chorar. Imediatamente virou e abriu a porta. Sônia só percebeu que estava pronta para a fuga quando foi puxada para fora.
-- Vamos, Sônia! Corre! Corre! -- As duas abandonaram o local, deixando as portas escancaradas.
Jairo, por sua vez, lutava com Victor evitando sua aproximação. Quando Victor percebeu a porta aberta, largou o professor e saiu. O professor tentou se recompor, ficando em pé. Devagar e desconfiado se aproximou da porta. A escada logo a frente estava livre. Subiu cautelosamente. A porta logo acima estava meio aberta. A iluminação vermelha daquele local dava arrepios, e tinha que ser assim, pois era a sala de putrefeitos. Aquela porta não deveria estar aberta devido a seu mecanismo de proteção. Ela camuflava tudo o compartimento onde trabalhava o professor e sua equipe. Era um local clandestino. Aquela porta deveria permanecer fechada quando a porta de entrada da sala de putrefeitos abria, mesmo que fosse aberta várias vezes. Isso significava que ninguém ainda havia saído daquela sala. O coração de Jairo acelerou ainda mais, e mais ainda a medida que avançava nos degraus. A medida que se aproximava da porta não percebeu ninguém dentro de seu campo de visão. Devagar foi abrindo a porta, já preparado para qualquer ataque. O local estava vazio.
Que estranho. A porta de entrada da sala, que supostamente deveria estar fechada, estava totalmente aberta. Cuidadosamente saiu e não viu nada ameaçador, pelo menos até onde podia enxergar. Não fosse a iluminação avermelhada, o local estaria em trevas. Pegou o extintor de incêndio logo a frente e se preparou, encostando no lado mais escuro do local.
-- Ei! -- Gritou e esperou em posição de ataque. Não escutou nada. Gritou mais uma vez. -- Eei! -- Nada. Nenhuma alma no local. Era hora de cair fora.
Antes de sair, entrou na sala de putrefeitos e verificou a porta clandestina. Ela fechou normalmente, não verificou nenhum defeito. Saiu e fechou a porta grossa da sala. O local ficou em trevas. Ligou a luz e vasculhou visualmente ao redor. As portas no corredor de saída estavam abertas. Foi avançando confiante. Apenas a porta que ligava à recepção estava fechada e precisava de chave para sair. Dentre a equipe, só ele tinha aquela chave. Sentiu um arrepio só de pensar que logo seria atacado novamente. Cuidadosamente olhou para trás. Nada. Mesmo assim, estava com medo. Visualizou a porta novamente. Era sua chance de sair. Rapidamente abriu a porta, entrou na saleta da recepção. Percebeu através dos vidros que a vidraça da porta estava quebrada. Elas tinham saído. Não entendeu como elas saíram. Só podia ser uma coisa, uma das meninas tinha uma cópia das chaves. Mas, porque?
Desligou as luzes e saiu.
Sua atenção se voltou para a gritaria vinda do lado direito da rua. Eram gritos de desespero. Abriu a cerca e logo a fechou. Estava intrigado com toda essa barulheira de gente gritando. Pensou em satisfazer sua curiosidade mas o bom senso dizia para ir embora. E aí ficou indeciso por alguns instantes em frente da placa do local, do Instituto Médico Legal - IML.
Decidiu ir embora pelo lado oposto, pela rua Dom Pedro I. Foi embora correndo.